Coleções de imagens preservadas no imaginário são referências para entender o mundo. Acervos visuais são produzidos para idolatrar, consumir, preservar, nomear, ordenar e formular representações pelo ponto de vista dos produtores. Há uma relação entre imagens criadas e o modo como é vista a realidade. Se a representação não se assemelha ao "modelo" do acervo visual não tem valor. Quanto mais representações visuais, maior o repertório visual estético. A visualidade (modo como construímos nosso modo de ver) é formada por diferentes regimes escópicos (modo de ver derivado das interações com diferentes materiais visuais).
Muitos artefatos visuais atuam na Educação Infantil, através das decorações dos espaços. Escolas filtram imagens, enfatizando algumas e excluindo ou silenciando outras. As imagens tem caráter pedagógico (visual). Tem função de educar a visualidade. Um bom exemplo é que a Turma da Mônica dá ideia de criança, de brincadeira de grupo. Assim, Maurício de Souza chega a afirmar: "crianças absorvem ensinamentos, revistas servem como cartilha de cidadania, tentando preservar valores meio esquecidos". As corporações querem propagar ideias. Com isto as imagens produzem os modos de ver das crianças e das professoras.
As imagens tem sentido construído nas interações sociais e culturais realizadas com elas. O sentido emana dos diálogos entre elas e as pessoas, mediados por contextos culturais e históricos. Manguel diz "construímos narrativas por meio de ecos de outras narrativas, sejam imagéticas, sociais, culturais ou textuais". Frente a uma imagem, é comum a criança questionar 'o que quer dizer isto?'. Daí decorre que sempre se tem a ideia de que uma produção quer transmitir algo. Dá a ideia que representação visual cria uma realidade, ensinando comportamentos, valores, concepções de mundo, modo de ser. E também servem para formular novas imagens, sendo cânones estéticos.
A igreja antecipou produções do renascimento, bem como a fotografia, cinema e meios da comunicação de massa formularam modos de expor imagens para criar certas visões do mundo, visando normatizar modos de ver adeptos em torno de suas visões. Desde o período medieval as imagens sacras eram para propagar ensinamentos e aumentar número de devotos. Imagens se destinavam a tornar os seres humanos mais conscientes da dimensão espiritual da vida. Produziam verdades e as visões do mundo espiritual e terreno. A diversidade de formas, através da qual pode ser articulado um discurso, implica intertextualidade. Na perspectiva renascentista, as imagens representam o mundo real dentro do quadro. As produções artísticas instituíam a realidade. Eram documentários do mundo narrando acontecimentos e mostrando a fauna e flora. As representações podem ser tão ou mais reais que os próprios objetos representados. A imagem representa o mundo real dentro do quadro são documentários.
As imagens e documentários produzem verdades e saberes como ensinam a crer que elas representam e definem a realidade. No século XVI, várias são as iniciativas para fixar e reproduzir as imagens até máquina fotográfica e filmadoras. Ao invés das mãos, as máquinas e os agentes químicos. Do realismo passa-se da pintura para o impressionismo. Os vários movimentos (ismos) se afastam da função descritiva ou imitativa que a pintura a óleo teve por três séculos. Mas, com todos os progressos, as imagens para diferentes meios de comunicação continuam produzindo conhecimentos a nossa visualidade (modos de ver).
Nas escolas uma pedagogia da visualidade de várias maneiras, os sistemas de arte de diferentes períodos históricos estão relacionados com a forma de ensinar arte. Principalmente na educação infantil é desenvolvida uma educação através das imagens. Ambientes com produções de obras com objetivo de promover cultura artística. Hoje continua, mas como meio de munir as crianças com conhecimento mais requintado. A imagem é o saber ilustrado. Função além de embelezamento. Proporcionam, criar vínculos e novo espaço e pessoas.
Nas ambiências tem uma forma pedagógica em curso, formando a pedagogia da realidade, processos educativos efetuados para imagens que funcionam como currículo visual. Formulam conhecimentos e saberes e produzem efeitos de sentido. As imagens por presença insistência dão um modelo (Cinderela loura de olhos azuis) incluindo ou excluindo os alunos por semelhança ou diferença. Por outros ponto de vista, há saberes (das diferenças) que não são considerados, sendo diminuídos ou desprezados.
Sem visibilidade de determinadas imagens, os tipos fora dos padrões de beleza e comportamento afastam a possibilidade de entender diferenças de pensar. Acolher imagens de corporações de entretenimento (Disney), mostra falta de posição crítica das escolas em relação ao acervo imagético e reduz o acesso a outros repertórios produzidos em outros contextos culturais. A escola lida com imagens midiáticas apenas na perspectiva da satisfação, enfatizando os prazeres proporcionados às crianças.
Com isso não são enfocados outros modos de reflexão que permitam outras formas de ver o mundo. Há profusão de imagens, mas pobreza de propostas que envolvam a constituição da linguagem gráfico-plástica infantil. O aluno é saturado de imagens mas privado de meios de entendê-las e de produzi-las. O desenho, recorte e pintura ficam engessados por convenções gráficas pobres com destaque ao que vem da mídia (Cinderela, Mônica, etc.).
A forma de ver derivada das imagens midiáticas são de dócil aceitação, adesão e não de questionamento frente ao que vem. Não há espaço para divergir, ser diferente. Tudo é pautado para um olhar consumidor sem fixar detalhes, vasculhar ou questionar. As possibilidades, capacidades das crianças são barradas em nome de um padrão que impõe o ponto de vista em várias circunstâncias e momentos. As produções culturais programaram nosso olhar sobre o mundo definindo e hierarquizando o que seja bom ou mau, feio ou bonito, com o poder de incluir ou excluir imenso. Apesar das imagens serem um dos meios mais persuasivos de comunicação as escolas tem ignorado seu poder social, histórico e cultural.
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